Faz tempo. A família se reunia ao redor da mesa de jantar, o pai sempre sentava numa das cabeceiras e os filhos homens, claro, não podiam sentar sem camisa. A mãe servia os pratos dos menores, que aguardavam pacientes e ansiosos cada colher de feijão e arroz que caia no prato. Não se podia levantar da mesa sem pedir licença e lavar as mãos antes das refeições era regra e não exceção.
Quando eu era um garoto, ouvia falar da palavra saudosismo e me soava estranho as histórias dos mais velhos. Eles falavam para mim de um tempo tão distante e de costumes tão arcaicos, que pareciam-me peças vivas saídas de um museu qualquer. Onde já se viu dizer que uma mulher não podia votar no Brasil ? Isso só ocorreu em 3 de maio de 1933, na eleição para a Assembléia Nacional Constituinte. A mulher brasileira, pela primeira vez, em âmbito nacional, votaria e seria votada, e caberia a primazia de ser eleita à médica paulista Carlota Pereira de Queiróz, a primeira deputada brasileira, que havia se notabilizado como voluntária na assistência aos feridos durante a Revolução Constitucionalista. Na América Latina, o primeiro país que concedeu o voto as mulheres foi o Equador, em 1929.
Faz tempo. A família não se reúne mais para qualquer refeição do dia e as desculpas são as mais variadas possíveis. A mulher trabalha fora (eu acho tétrica essa expressão), o marido é um executivo à beira de um ataque de nervos, os filhos navegam na internet e o único que nos faz companhia à mesa é o cachorro, que, aliás, não senta na cadeira, mas fica ao pé da mesa, pacientemente, aguardando a sua vez de provar da refeição.
Faz tempo. Dizem que a família faliu, mas eu acho que não. Os tempos são outros, os costumes mudaram e os valores….bem, esses, sim, precisam serem resgatados. Eu confesso que faço a minha parte, mas sei que não é fácil ir de encontro a maré. Tenho três filhos homens, adultos, com 22, 20 e 18 anos e não dá para criá-los como numa redoma de vidro. Eles têm que interagir com o mundo, aprender com seus próprios erros e perceber que aquilo que eu falo (esqueci de falar que sou pai e mãe) não é padrão universal. São os valores que possuo e foram herdados dos meus pais, mas a sociedade pode apresentar-lhes uma outra versão e eles devem se sentir preparados, através dos meus ensinamentos, para contestar com argumentos consistentes que a família ainda existe.
Ela, a verdadeira família, não faliu . Quem sabe, o que precisamos mesmo é de um pouco do saudável saudosismo, avançando nas conquistas que fizemos, mas lembrando que é preciso ser presente – jamais omisso – cuidando dos nossos filhos com a responsabilidade paterna e materna, afastando-os do caminho fácil e ao mesmo tempo doloroso das drogas, ensinando-os a serem cidadãos honestos – que não gostam de levar vantagem em tudo, certo?
Minha proposta para começar imediatamente essa nova revolução não é complexa, dispendiosa ou mirabolante. Não precisamos de muita coisa. Basta fazer aos outros aquilo que gostarias que fosse feito contigo. Simples assim.