É comum dizermos que alguém explodiu de raiva, como se isso fosse possível de acontecer ou que fulano se desmanchou em prantos, quando viu a sua amada partir. Tudo isso se deve ao fato de imaginarmos terem as palavras o dom de transformar em ações os nossos desejos. Mas será que as palavra têm vida? ou será que nós vivemos através das palavras?
As palavras quando ditas por alguém que não inspira crediblidade parecem denunciar o impostor como se ele não tivesse o direito de proferi-las. Muitas vezes as palavras não precisam de uma voz para identificar quem as originou. É como se elas só pudessem ter sido ditas pelo verdadeiro dono daquelas palavras.
Jesus Cristo talvez tenha sido o maior orador de todos os tempos. Nas suas pregações, reunia milhares de admiradores que mais tarde se tornavam fiés, principalmente porque acreditavam nas suas palavras. Sem querer fazer comparações, atribui-se a Hitler o dom de magnetizar os nazistas pela sua causa, usando-se das palavras como uma droga que penetra no cérebro, entorpece e afasta o homem da realidade. Cristo usava as palavras para curar. Hitler as usava para adoecer a mente de todos aqueles que o seguiam.
As palavras podem ser letras frias de um processo qualquer ou repousarem mortas num arquivo esquecido pelo tempo. Podem ajudar alguém a acreditar que existe um amanhã ou fazer um desesperado desistir da vida que não lhe pertence. Particularmente, acredito que as palavras são vivas, porque através delas podemos ferir a alma de alguém como uma navalha, afastando de vez a esperança dum coração iludido ou então fazendo-a mergulhar em sonhos tão profundos quanto um oceano de esperanças e ilusões.
O silêncio é a ausência das palavras. É como um decreto de morte. Não me refiro a incapacidade de falar, mesmo porque as palavras são vivas através dos sinais transmitidos pelos códigos criados pelos homens. O silêncio é o calvário, o último repouso de uma vida criativa, jamais repetitiva, mesmo que vivida sem muito conteúdo ou ao contrário, que nos tenha preenchido plenamente, nos brindado sempre com a inspiração oportuna de um epitáfio onde se lê: “Aqui jaz a vida, porque a morte nunca se pronunciará através das palavras”.

Herval Filho
Niterói / RJ
20/04/2003