Os pais nunca morrem (crônica)

Ele era simples, sempre direto. Tinha suas regras e nós a seguíamos, compulsoriamente. Era um homem de palavra e fazia questão de honrá-la. Era amigo dos amigos, mas ajudava quem não conhecia. Era racional com doses cavalares de sentimentalismo; era contraditório. Era exagerado, porque bebeu em demasia e fumou desregradamente. Abandonou ambos os vícios, mas morreu por causa deles. Hoje, faz 20 anos e hoje é 20 de março. Eu não pude receber de suas mãos meu diploma de administrador de empresas, mas ele me viu sendo o orador da turma de química, 10 anos antes de nos deixar. Só conheceu meu primogênito e não carregou meus outros quatro filhos. Deixou-me de presente o seu nome, seus valores e regras; me fez o homem que sou. Tenho saudades e muito orgulho de ser seu filho. Um dia nos reencontraremos para que eu possa lhe dizer, outra vez: Muito obrigado, eu te amo, meu pai.

0 thoughts on “Os pais nunca morrem (crônica)”

  1. Saudade é para sempre. Boas lembranças, de todos os Natais e Anos Novos, de uma vida sem celular, sem internet (como isso era possível?), sem tantas câmeras de segurança que invadem nossa privacidade, mas que revelam muitas coisas antes escondidas. Hoje, não há mais espaços para tristezas e cobranças, porque a vida segue adiante seu rumo. Fica a certeza de que sempre faremos parte da história da vida de alguém e escrevemos na linha do tempo a nossa passagem, imprimimos a nossa marca, deixamos o nosso legado.

  2. Herval,

    obrigada por suas palavras em meu blog; obrigada de coração, pois sei que em você resiste o sentimento de saber que sempre serei a sua irmã.

    Pai

    Vou em busca nos locais sombrios
    Ou em meio aos tormentos da memória.
    E os momentos parecem retornar a minha vida
    Tendo comigo a idéia de que estás comigo agora.
    São momentos curtos – direi intervalos
    Mas ficaram cá dentro jamais se vão.
    E brinca com o tempo fazendo desta hora
    O espaço de quase um vagão.
    E assim te levo pela estrada
    Lembro das palavras, lembro dos carões …
    Foram sementes, pai, foram sementes
    Que certamente germinarão.

  3. Gostei muito do seu blog. Também tive um pai memorável. Também morreu cedo. Ele não bebia, mas fumava muito e passou a vida construindo casas e apartamentos. Muita fumaça, muita poeira.

    1. Leila, fico IMENSAMENTE feliz por terdes gostado do meu blog. Não sou jornalista, mas tenho um irmão que é. Apareça sempre que tiver um tempo para comentar. Comentários são como uma bússola. Obrigado!

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