A Bahia é uma terra muito festeira. O ciclo de festa populares começa dia 4 de dezembro, dia dedicado a Santa Bárbara para os católicos ou Iansã para quem gosta de bater uns tambores no Candomblé. Dizem – notadamente os não baianos, que a última festa termina no dia 3 de dezembro do ano seguinte. Quando garoto, a minha festa preferida era o dia 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá (veja vídeo). Adorava ver a saída dos inúmeros barcos de pescadores em direção ao mar levando presentes e flores para a Rainha das Águas, na maior manifestação pública do candomblé. O povo participava ativamente e entoava cânticos em louvor a Iemanjá. Era lindo ver os fogos de artifício espocando no ar. Eram centenas, talvez milhares, quem sabe.
Hoje, depois de muitos anos, fui ao Rio Vermelho – bairro de Salvador que abriga a festa. O que vi, nem de longe lembrava a festa que ficou gravada na minha mente e retinas.
Um mar de gente se arrastando ao som de pobres batuques e outro mar de mijo que descia a ladeira em direção ao mar da Praia da Paciência. Aliás, paciência era mesmo necessária para enfrentar os inúmeros engarrafamentos que tomavam conta das vias de acesso ao local da festa. Salvador não investiu em transportes públicos nos últimos anos e nem no planejamento urbano. Isto é visível e parafraseando o ex-ministro, já falecido, Rogério Magri é também “sentível”.
Voltei logo após a saída dos barcos que levavam as oferendas. Ao longe, assistia a tudo da sacada de um apartamento e pedi desculpas, sem palavras, a Iemanjá. Desconfio mesmo se esse ano ela teve coragem de ir ao encontro dos presentes. Sua sabedoria de rainha deve ter-lhe feito tomar a mesma decisão que eu estou fadado a tomar. Guardarei as lembranças dos bons tempos da Festa e assistirei à noite – nos jornais televisivos, as imagens editadas com os melhores dos piores momentos daquilo que hoje pensam ser a sua festa.